terça-feira, 27 de novembro de 2012

Ano da Fé em Setúbal



Homilia na abertura do Ano da fé, Sé, 14/10/2012
Iniciamos hoje o Ano da Fé na nossa Igreja diocesana. Fazemo-lo em resposta ao apelo do
Santo Padre e conscientes da necessidade da purificação da fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, feito
homem sem deixar de ser Deus e que morreu, ressuscitou e subiu aos céus para nos salvar do
pecado e da morte eterna e para nos conduzir à glória de Deus.

No ano da fé, como escrevi no convite para esta celebração, peço a todos os membros da
igreja diocesana duas atitudes fundamentais: o desejo sincero de cuidar a sua fé e a grata tarefa de
ajudar a diocese a viver, com verdade, este ano como pede o Santo Padre na sua Carta “Porta da
Fé”: “O Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e para a
redescoberta da fé, para que todos os membros da igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do
Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a porta da fé a tantas pessoas que a
procuram.”

Agradeço, caros irmãos, a vossa presença de fé e saúdo-vos como assembleia santa, reunida
no amor do Pai, Filho e Espírito Santo. Saúdo especialmente o sr. Vigário Geral, o vice-reitor do
seminário, os sacerdotes e diáconos, os religiosos e religiosas, o seminário e pré-seminário, os
serviços diocesanos, os movimentos e obras, os conselhos paroquiais e diocesanos, a comissão do
ano da fé. Em vós, saúdo a Diocese e agradeço o envolvimento de todos na vivência deste Ano.

Jesus Ressuscitado é o coração da fé cristã. Ele está no centro de tudo e ilumina tudo: o credo,
os sacramentos, os mandamentos, a oração, a história da Igreja. No Seu amor descobrimos Deus
como Pai que nos criou, o Espírito Santo que vive em nós e nos guia para o Pai. Descobrimos a
dignidade divina de cada pessoa e o sentido último da vida e encontramos coragem e esperança
até nas situações mais difíceis. Feliz o crente que, no Espírito de Jesus, é capaz de descobrir Deus a
envolvê-lo na ternura do Seu amor e a conduzi-lo, e à história, para Ele! Quanto mais se entra na
Porta da Fé tanto mais se descobre a beleza, a novidade e o poder recriador do amor divino.

Felizes aqueles que receberam o dom da fé e o cultivam com encanto e santo orgulho!

O encontro, na fé, com o Crucificado-Ressuscitado é apresentada na Bíblia como tesouro tão
grande que, aquela pessoa que O encontra e reconhece como Seu tesouro, aceita desprender-se
de tudo para O seguir, não com o peso de uma obrigação imposta, mas pela descoberta de que o
Senhor Jesus é mais importante, para ele, que todas as coisas.

O próprio Jesus refere a radicalidade deste seguimento, dizendo: “se alguém quer vir após
Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Assim fizeram os apóstolos, o fez S.
Paulo e uma multidão de irmãos nossos que, no decurso dos séculos, preferiu morrer por Cristo do
que viver, negando-O.

Foi isto que o jovem rico, de que falava o evangelho, não entendeu. A riqueza, para ele, valia
mais que o amor de Deus. Por isso, não se desprendeu dela para seguir Cristo; não pôs Deus acima
de tudo como diz o primeiro mandamento. E como é connosco? Há algo que nos impede de dar a
Cristo o primeiro lugar: a riqueza material, o comodismo, a autosuficiência?

A fé em Cristo é a sabedoria de que falava a primeira leitura e que é mais valiosa que todos os
bens. Fortalecê-la é essencial e é grande sabedoria. A fé é o motor da vida cristã. Se está de boa
saúde, óptimo. Se está doente, tudo se complica. As dificuldades maiores da Igreja não vêm de
fora, mas da debilidade da nossa fé. Na verdade, quando ela vacila não há reformas que valham,
diz o Papa, na carta citada: “Se a fé não ganhar nova vitalidade, tornando-se uma convicção
profunda e uma força real, graças ao encontro com Jesus, permanecerão ineficazes todas as
reformas.”

Como purificar a fé, perguntará alguém?
A fé, porque é encontro com Senhor Ressuscitado que nos ama primeiro, purifica-se com as
várias formas de oração em que se contempla e acolhe Deus, sempre presente, a envolver-nos em
Seu amor. Há que encontrar tempo para oração bem feita.


A fé, porque é aceitação do ensinamento da Igreja, purifica-se numa boa catequese de adultos
e na leitura do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica.

A fé, porque é peregrinação constante para Cristo, purifica-se afinando a consciência
sobretudo pela palavra de Jesus e pelo sacramento da confissão, em contínua conversão.

A fé, porque é inseparável da comunhão da Igreja, purifica-se aprendendo a dialogar, a
acolher, a ser comunhão e instrumento de comunhão de Deus com os homens e destes entre si.

A fé, porque não se pode calar, purifica-se anunciando-a com novo ardor e métodos, estando
atentos ao Sínodo d'A nova evangelização para a transmissão da fé”; cuidando a “iniciação cristã
atraente e exigente” e preparando bem os catequistas. Quem a cala, não crê.

A fé, porque é luz do mundo, purifica-se iluminando a sociedade; colaborando com os outros
homens na busca dum mundo baseado na caridade e na verdade e partilhando valores e critérios
evangélicos, em clima de caridade sincera, diálogo atento e busca do bem comum.

A fé, porque pede a caridade, purifica-se, amando como Jesus nos amou, educando um
coração de Bom Samaritano que procura o pobre, o doente, o desempregado para o ajudar e não
só com o que sobra. Sei, irmãos, da vossa generosidade. Louvando a Deus por vós, peço que
inventeis novas formas de servir e que a nossa fé brilhe com a caridade de Cristo.

Que cada um de nós avance feliz e firme para Cristo, amparado pelo nosso Deus e a mãe Igreja
e, por isso, capaz de vencer a oposição do mundo, do demónio e da carne; que cada um de nós
seja humilde para aceitar que é pobre de fé e para clamar: 'Senhor, aumenta a minha fé'; que cada
um elabore um programa de vivência do ano da fé e ajude os irmãos a avançar para Cristo.

Entregaram-nos a fé. Agora, é a nossa vez de a anunciar, preparando a Igreja para isso. No
serviço da fé não se esqueça que o testemunho individual e comunitário da fé, rica de sabedoria e
de santidade, como se vê na vida dos santos, é necessário – e por vezes o único meio – para que os
descrentes, acreditem em Cristo. Sem isto, as melhores palavras e métodos não chegariam!

A vida, vivida na fé, é uma profissão bela e diária da Fé, que encontra na recitação do Credo,
no domingo, expressão e alimento. Daqui a momentos vamos fazê-lo, reafirmando a decisão de
caminhar para Deus na Igreja e de levar ao mundo Jesus Cristo para que seja elevado ao Céu.

Antes disso, porém, convido-vos a pedir a intercessão da Mãe de Deus para as actividades do
Ano da Fé, para os nossos dedicados sacerdotes e para as pessoas que exercem algum serviço na
Igreja de Setúbal. Por fim, peço-Lhe a Ela, modelo e mestra da fé, que nos ajude a recitar hoje o
Credo da nossa fé com tanto encanto e decisão que marque um novo início na nossa vida e na vida
da Diocese. Vamos pedir esta graça a Nossa Senhora?
+ Gilberto, Bispo de Setúbal


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